sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Revirando o Baú



Nada melhor que amigos antigos para nos lembrar quem somos. Mas melhor ainda pra saber como mudamos, ou continuamos sendo os mesmos, é revirar projetos antigos. Todos temos arquivos perdidos no micro, ou papéis em caixas no quarto. Não tem tristeza que agüente o quanto é engraçado ver algumas anotações antigas, e lembrar como a gente flutua às vezes, como já tivemos idéias grandiosas, outras tão ridículas, e que algumas não entendemos porque não abraçamos na época.
Então eu posso dizer com propriedade que, se você se sente um pouco perdido, com vontade de ter acertos com você mesmo, a melhor coisa a ser fazer, que eu sempre digo aos amigos: arrume seu quarto! Mas não uma ajeitada como sempre, simplesmente coloque ele abaixo! Abra todas as gavetas, jogue fora o que realmente nunca usa e nem nunca vai usar. Mas tem coisas, que por mais inúteis que pareçam ser, te fazem lembrar. Lembrar de algo, de alguém, ou de como você era. Tente reservar um espaço só pra essas coisas. Uma caixa, ou um espaço na gaveta. Coisas que podem atravessar o tempo, mas sempre farão parte de alguma história sua, e que quando esquecermos de nós mesmos, olhamos e vamos rir.. rir da gente!
No dia-a-dia damos importância demasiada à coisas ínfimas, diante do nosso tamanho. Quando nos sentimos grandiosos, tudo em volta diminui. Quando nos encolhemos e retraímos, tudo em volta parece ser um gigante, e são plenos os problemas que seriam menores que sua auto-estima.
Uma frase que não esqueço, e que escutei em um dos últimos momentos que ainda estava perdendo forças diante de tanto trabalho e agitação dos meus dias, foi que eu tenho potencial pra muita coisa, mas era uma pena eu não acreditar em mim. Desde esse dia, parei pra refletir quão patética pessoa eu me tornara. Logo eu que não medira esforço algum para alcançar a altura que eu estava me equilibrando, esqueci de como foi o caminho no todo, só por conta do último tropeço que feriu meus pés. Uma caminhada pode ter percalços, nem por isso o caminho não continua sendo o mesmo.
Tudo isso pode soar clichê, mas a vida é um imenso de ja vú, cansamos de ver as mesmas cenas, e ainda assim conseguimos esquecer as mais importantes lições quando mais precisamos. Esquecemos de lidar com situações mais simples. Ficamos ignorantes por dias, meses, até que abrimos uma gaveta que não abríamos fazia tempos. Ainda abaixamos a cabeça pra pessoas que nada nos acrescenta somente por sermos do bem. E vacilamos com quem menos merecia, com quem acredita mais em nós do que nós mesmos. Por que isso é o mais comum? Por que “emburrecemos” tantas vezes por ano? Porque somos como um quarto cheio de coisas, temos que limpar e filtrar tudo o que entra a todo tempo. Dane-se a decoração, se for do seu gosto. Seu estilo de vida é seu, se não faz mal aos outros, também aos outros não deve importar. Viver já importa muito, não bastaria isso?
E fazer algo de bom simplesmente por fazer, tem preços altos com juros. Porque as pessoas não acreditam nas outras. Ainda tentam me convencer que tudo gira acerca de interesses além da particularidade, e aquém do altruísmo. Em 3 décadas ainda não absorvi essa idéia, ainda acredito nas palavras sinceras, sejam mentiras ou devaneios, sejam sonhos ou receios, seja lá o que for, eu não tenho medo das pessoas. Tenho medo de mim por confiar, e assim me colocar em risco, em perigo. Esse paradoxo urbano me traz a exaustão. Só me descansa quando fecho a porta de casa e assim me livro do mundo. Quando me deparo com o olhar curioso do meu cão que parece ver traduzida a minha fadiga, e só abana o rabo. Ele é leal também. Porque há uma certa diferença entre abanar o rabo pras pessoas, e ser leal à elas. Há quem não conheça essa diferença, e lambe os pés de quem se cogita ser o dono, ou quem cuida por cativar.
Olha só o que achei na minha gaveta, fotos antigas, de gente que não existe mais. Senti saudades.

Um comentário:

vans . disse...

Pqp, Melzinha, adorei! (:
Me vi em muitas coisas que tu escreveste... Concordo quando diz que é bom colocar o quarto à baixo, sempre faço isso.
Me identifiquei principalmente com esse trecho: "Porque as pessoas não acreditam nas outras...", "...Tenho medo de mim por confiar, e assim me colocar em risco, em perigo."
Chego à ser babaca muitas vezes por confiar de mais, acreditar tanto nas pessoas.
Mas como eu sempre digo, deixe que elas errem por nós e vamos seguindo assim, acreditando sempre que assim como a gente as outras pessoas sempre darão o seu melhor.
Beijo, gosto muito de ti :*